Talvez você nunca tenha se perguntado por que os médicos usam verde no centro cirúrgico, mas antes dos anos 1700 os cirurgiões nem sequer tinham roupas especiais para vestir ao operar. Eles usavam roupas normais, ocasionalmente tirando os casacos e arregaçando as mangas. Já no século XIX, os cirurgiões usavam jalecos pretos que acabaram se tornando vestidos brancos sobre suas roupas normais.
Num certo momento, os médicos perceberam que era mais seguro e estéril vestir um novo conjunto de roupas durante as cirurgias ao invés de simplesmente usar roupas sanitárias sobre as roupas do dia a dia. Normalmente, essas roupas eram brancas para facilitar a limpeza, mas isso causava alguns problemas.
Com o aumento da eletricidade, que obviamente substituiu a luz natural baixa das salas de cirurgia por luzes fortes, os cirurgiões experimentavam sérios ofuscamentos. Havia um “efeito fantasma” que criava uma névoa ao deslocar o olhar do interior vermelho-sangue de seus pacientes para os fundos brancos dos uniformes.
E foi aí que a história começou a mudar.
O fenômeno da pós-imagem
Para explicar o uso de verde nos centro cirúrgicos precisamos, antes de mais nada, recorrer à teoria da cor e uma boa pitada de física.
Nós temos 3 cones que captam frequências diferentes de cores dentro dos nossos olhos: vermelho, verde e azul (RGB).
Quando você olha por muito tempo para uma cor o cone que capta essa frequência fica fadigado e começa um processo de “compensação”.
O cérebro faz essa compensação tentando equilibrar a perda de sensibilidade a uma cor te mostrando a cor oposta a ela no círculo cromático, que no design chamamos de “cor complementar”.
O nome desse fenômeno é PÓS-IMAGEM.
Esse a seguir é um famoso exemplo de PÓS-IMAGEM.
Se você olhar essa imagem por 10 segundos e depois se virar para uma parede branca piscando rapidamente, vai ver as cores oficiais da bandeira do Brasil.
Isso acontece porque o seu cérebro superestimula o cone responsável pela captação da cor e compensa te mostrando a respectiva cor oposta.
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Uniformes verdes, verde-azulados e azuis
Tá, mas afinal, por que os médicos usam verde no centro cirúrgico?
Durante uma cirurgia, os médicos ficam longos períodos com os olhos fixados em tons avermelhados do nosso corpo (órgãos, sangue e etc). Com os uniformes brancos eles acabariam enxergando VERDE projetado no branco, já que este é oposto ao vermelho na roda de cores.
E você deve estar me perguntando: “Tá, mas por que isso seria um problema?”.
A resposta é que essa fadiga na retina pode produzir uma ilusão de ótica (ou um “efeito fantasma” como diziam) e fazer com que, ao voltar para os tons vermelhos do nosso corpo, eles não sejam identificados corretamente. Essa redução da visão faz uma grande diferença na cirurgia, onde cada milímetro importa.
Em 1914, um cirurgião de São Francisco apresentou uma solução para esse problema. Ele sugeriu que o branco fosse substituído pelo verde.
Como o verde é oposto ao vermelho na roda das cores isso faria com que a compensação da fadiga da retina já fosse feita. Muitas vezes, depois de olhar para os órgãos avermelhados e partes do corpo com as quais os cirurgiões estão trabalhando, as cores e os objetos começam a se misturar. O verde fornece um contraste valioso que ajuda os cirurgiões a distinguir entre diferentes tons de vermelho e rosa.
Essa é uma das principais características da cor complementar, dar suporte à sua oposta. Quando você utiliza cores complementares seja no seu design, roupas, decoração e etc, isso faz com que elas pareçam ainda mais vibrantes.
A polêmica das cores complementares
Muitos podem questionar o fato dos médicos usarem também o azul ou o turquesa, outros questionam a tese de que o magenta é a verdadeira cor oposta ao verde, mas a verdade é que as cores não são absolutas e sim um espectro.
Apesar da percepção da cor ser fundamentada pela física, o estudo de cores opostas, ou seja, complementares é relativo.
O livro A Psicodinâmica das Cores em Comunicação (2006) diz que:
"O complemento da cor é, na realidade, um estudo psicológico, e não físico, agravado, além disso, pela imprecisão da nomenclatura das cores existentes até hoje. É por isso que as afirmações feitas sobre cores complementares são sempre relativas. Pudemos observar que existem vários círculos de cor e que há divergência sobre as complementares ou, então, que estas apenas concordam entre si aproximadamente"
A teoria das cores é uma das disciplinas mais complexas do design e seu estudo ultrapassa a física alcançando níveis psicológicos, sociais e culturais. Seu estudo nunca será “preto no branco”, há que se ter habilidades em humanas para entender que a sua compreensão é, acima de tudo, subjetiva.
@itamara.ferreira Esse também é um dos motivos pelo qual cores complementares funcionam tão bem juntas, uma apoia a outra deixando a paleta mais vibrante e bonita. #design #designgrafico #cores #paletadecores #neurociencia #ciencia #medicina #colorimetria #logotipo #branding #designdemoda ♬ som original - Itamara Ferreira
Fantástico. Não imaginava a complexidade por trás da escolha da cor do uniforme. Parabéns pelo conteúdo.