A importância de incluir o cliente no processo criativo

Todo designer já se sentiu pressionado a adivinhar o que se passa na mente do cliente. Alimentar o "fator surpresa" e esconder o processo criativo só cria a falsa ideia de que design é sorte.

Há alguns anos eu fui apresentar um projeto a uma cliente e, antes que eu começasse, ela disse: “Espera! Como você se sente nesse momento em que eu estou prestes a ver o que você fez para mim?”. Eu fiquei em choque. Quase respondi: “Desesperada!”, mas me contive e disse que já estava acostumada. No fundo eu sabia que a sensação se repetia todas as vezes simplesmente porque eu não incluía o cliente no meu processo criativo.

Alguém em algum lugar criou a crença de que o “fator surpresa” faz parte do design.

Esse fator é aquela hora em que você vai apresentar o projeto para o cliente e ambos ficam com uma dor de barriga terrível sem saber o que virá.

De um lado o designer que fez o briefing, sumiu e apareceu semanas depois tentando adivinhar o que o cliente queria, do outro o cliente que não faz ideia do que vai receber e fica na ansiedade pensando: “E se eu não gostar? Mas o designer teve todo esse trabalhão, vou ficar sem graça de reprovar”.

Agora coloque essas duas pessoas numa estrada a 180km/h. Quem ganha?

Eu respondo: a sorte.

Acontece que design não é sorte, é trabalho duro!

É preciso entender que como projeto (que é a tradução da palavra “design” do inglês), design envolve metodologia, processo, etapas e não apenas talento.

Nesse post eu falo mais sobre a utilidade do design. Clique aqui.

Mostre o seu processo criativo

Por ser filho da arte, o design esbarra muito no fator “inspiração”. Muitos clientes acham que o profissional dormiu e sonhou com aquela ideia que colocou em prática, e acredito que muito dessa crença é responsabilidade dos profissionais.

Como o cliente saberá que aquele resultado mostrado teve um trabalhão danado por trás se ninguém mostra?

“Deus me livre mostrar o meu processo criativo” – disseram os designers perpetuando a ansiedade quase paralisante de apresentar um projeto.

Mas será que isso é normal? Tem que ser assim? Essas foram perguntas que eu me fiz quando estava prestes a ter um piripaque do Chaves no final de 2020. A respostas que eu mesma me dei foi “não, eu não quero que seja”.

Ao longo dos meus quase 10 anos trabalhando com marcas experimentei muitas maneiras de fazer reuniões de briefing, apresentações de projetos e inúmeras metodologias de trabalho. A maneira que me sinto mais confortável de trabalhar hoje é trazendo o cliente para pelo menos 4 etapas do meu processo de construção de marca:

  1. Briefing e diagnóstico;
  2. Universo conceitual e visual;
  3. Logotipo e diretrizes criativas;
  4. Identidade visual.

Se o seu processo criativo é inteiramente caótico talvez seja a hora de estabelecer uma metodologia lógica e progressiva onde, é claro, vai existir a etapa de caos criativo, mas também haverão as etapas de convergência e organização.

Vai por mim, isso pode melhorar muito a sua porcentagem de refação.

Traga as pessoas para a solução

Algo que aprendi durante esses anos e que virou a chave na minha maneira de trabalhar em equipe é que as pessoas acatam melhor a solução quando participam dela.

E olha que curioso, você e o cliente são uma equipe! Ao invés de impor a sua visão, você pode guiar para que todos cheguem ao resultado juntos.

Ninguém conhece sobre o negócio do seu cliente melhor do que ele mesmo, existem informações que só ele pode te dar. Um cliente que não colabora com o trabalho do designer dificilmente colherá um bom fruto dessa parceria.

Então por que não trazer o cliente para o processo criativo para que, junto com você, ele também chegue no visual que melhor represente o objetivo que desejam alcançar?

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A relação entre designer e cliente não é um cabo de guerra

Um outro ponto importante é sobre o comportamento de “convencer” o cliente. Quando você se coloca no papel de convencer alguém subentende-se que vocês não estão no mesmo time.

O designer Chris Do, fundador da escola The Futur diz que “você e o seu cliente devem ser defensores dos interesses do público final e não dos seus interesses próprios”. Explicando como o consumidor final se comporta e se comunica você poderá fazer com que o seu cliente compreenda a realidade sem precisar convencê-lo de nada.

Ao invés de se zangar quando o seu cliente discorda de você que tal apostar num outro posicionamento?

Exemplo: a sua cliente não gostou da tipografia sans serif que você utilizou e queria uma cursiva.

A reação comum dos designers é:

        1. Fazer exatamente aquilo que a cliente pediu sem questionar;
        2. Bater o pé, reclamar e dizer que não vai ficar bom.

Mas aqui eu vou te dar uma terceira via.

Ao invés de encarar essa situação como um cabo de guerra, que tal compreender que o profissional da relação é você? Quando uma pessoa te contrata ela quer sentir segurança que você domina o que faz, então o caminho que eu proponho é: explique o seu trabalho pacientemente.

        3. Mostre para a sua cliente o que ela estará comunicando utilizando cada estilo de tipografia e, no final, pergunte se está de acordo com o que a marca gostaria de expressar. Você é o/a designer, você domina a teoria, você entendeu o público e sabe que as sensações transmitidas por uma tipografia muda de estilo para estilo.

Mostrando as possibilidades você dará à sua cliente a oportunidade de decidir e compreender que design não é sobre gosto, é sobre alcançar objetivos.

Muitos problemas que surgem na nossa relação com os clientes podem ser solucionados apenas mudando a abordagem.

Você não precisa abaixar a cabeça sempre ou muito menos usar de arrogância para se impor, é só entender que ser um profissional de design é saber equilibrar entre o que o cliente QUER e o que ele PRECISA.

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Itamara Ferreira
Designer, criadora do Leiautar e especialista em diálogos delirantes. Adora ouvir pessoas apaixonadas pelo que fazem e acredita que o design está em tudo e é para todos.

3 comentários

  1. Sempre textos fodas, é isso aí. Vou resumir com: Concordo. Você é a profissional que eu mais gosto e a que mais me ensina.

  2. Ita, curti muito esse post! Eu ainda não adequei a minha metodologia a incluir o cliente após o briefing e tenha pensado muito nisso e na segurança que isso pode dar pra o próprio cliente, mas confesso que me tira d aninha zona de conforto, rs. Tô em reestruturação e buscando pensar caminhos nesse sentido. O seu post ajudou a iluminar um pouco mais as coisas!

  3. Ai Ita, a senhora é muito minha inspiração! <3

    Toda vez que chega um pedido de orçamento novo pra mim eu converso com o cliente e falo que vamos construir o projeto juntos. É bom ter o olhar que o cliente também é parte criativa do trabalho, sem criatividade e ideias o cliente não tinha nem aberto um negócio, né? Claro, a gente tá ali ao lado executando, guiando e dando nosso parecer como profissional de design, mas depois que eu entendi que o cliente precisa estar mais envolvido, principalmente nas questões mais estratégicas da marca, eu tive muito mais retornos positivos sobre as entregas.

    Texto maravilhoso! Obrigaduuu!

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